MISSÃO E ESPIRITUALIDADE
13/08/2013 18:18
MISSÃO E ESPIRITUALIDADE
O sentido da palavra MISSÃO é simples e clara: pela etimologia significa ENVIAR.
É o envio de uma pessoa ou de pessoas para determinado lugar ou situação com determinada finalidade ou tarefa, para uma pessoa ou mais. Esta definição etimológica, propriamente, não especifica o caráter da missão.
Pode exprimir tarefas diversas relacionadas a diferentes dimensões da vida social, política, religiosa, espiritual... É necessário pois, ver a natureza ou o caráter da atividade/tarefa que o “enviante” confia ao “enviado”. Deve-se também determinar o “destinatário”. Por isso, o conceito de missão é mais amplo, mais envolvente, principalmente para a dimensão religiosa, para o cristianismo.
A MISSÃO compreende a pessoa que envia com uma mensagem, o enviado que deve anunciar ou testemunhar e o destinatário que recebe a mensagem.
A MISSÃO NO ANTIGO TESTAMENTO refere-se a uma realidade bem determinada. É uma ESCOLHA, a eleição de algumas pessoas, por parte de Deus, e o ENVIO para outras pessoas com uma MENSAGEM A TRANSMITIR ou uma ATIVIDADE PARA REALIZAR. O destinatário desta mensagem é, em geral, o povo de Deus.
Os exemplos mais claros são o de Moisés e dos Profetas:
- “O Deus de vossos pais me enviou até vós. Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou até vós” (Ex 3,13-14);
- “Quem hei de enviar? Quem irá por nós? Ao que respondi: Eis-me aqui, envia-me a mim” (Is 6,8; cf. 19,20);
- “A quem eu te enviar, irás, e o que eu te ordenar, falarás’ (Jr 1,7; cf. 26,15);
- “Ele me disse: Filho do Homem, vou enviar-te aos filhos de Israel, a esses rebeldes que se rebelaram contra mim. Envio-te a eles para que lhes digas: Assim diz o Senhor Javé” (Ez 2,3-4).
Na missão dos Profetas existe sempre uma relação estreita com a Palavra de Deus.
NO NOVO TESTAMENTO, a MISSÃO, refere-se, primeiramente, ao Pai que envia Jesus, o Enviado, para fazer a vontade do Pai e consumar a sua obra (cf. Jo 4,34) e o envio de Jesus aos Doze e dos outros discípulos e discípulas para serem suas testemunhas e anunciarem o Evangelho a todas as nações até os confins da terra.
A missão só tem uma origem. Tudo brota do coração do Pai. A fonte da missão é o projeto de Deus Pai, que é amor. Este projeto do Pai é a criação. É a vida, vida comunicada. É a criação do mundo, do homem como centro, da criação do casal humano, isto é, do homem e da mulher para viver a comunhão e humanizar a criação, enchendo-a de vida. Deus chama este ser humano a viver a comunhão com ele, a participar plenamente de sua vida.
Os discípulos e as discípulas de Jesus, que viram e contemplaram o Senhor vivo e ressuscitado e se alegraram por ver o Senhor (Jo 20,20) e, com o coração ardendo, saíram para anunciá-lo (Lc 24,32-33), foram enviados em missão por Jesus.
A Igreja, desde seu início, teve consciência da necessidade de proclamar a alegre notícia de Cristo, testemunhando-o em toda parte até o sacrifício da própria vida. Esta foi a ordem de Jesus:
- “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15);
- “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei” (Mt 28,19-20);
- “Recebereis uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra” (At 1,8).
Neste espírito de fidelidade a Cristo, Salvador de todos, a Igreja procurou sempre responder a esta nobilíssima vocação de ser portadora da Boa Nova e ser sacramento universal da salvação (Cf. LG 48).
Guiada pelo Espírito Santo, desenvolveu sua missão, na alegria e no testemunho até o martírio. A missão é uma realidade da qual a Igreja não pode se omitir. Ela é por natureza missionária.
A Igreja nasceu e viveu a missão antes de saber o que era missão. A experiência de vida, do “estar com Jesus”, era seu anúncio e testemunho. Como nós, em nossa vida: começa a respirar mesmo antes de saber como é o funcionamento dos pulmões.
Com Jesus os discípulos são os que têm uma relação pessoal com o Mestre e o radicalismo de deixar tudo para seguir a Jesus. Se não tomar a cruz... Trata-se, portanto, de uma nova forma de discipulado. Não doutrina, mas seguimento de uma Pessoa.
RMi 39: “A Igreja, portanto, tem o dever de fazer todo o possível para cumprir sua missão no mundo e alcançar todos os povos; e tem também o direito, que lhe foi dado por Deus, de levar a termo o seu plano”.
RMi 2: “Nenhum cristão, nenhuma instituição da Igreja podem esquivar-se deste dever supremo: anunciar Cristo a todos os povos”.
Por isso, a MISSÃO, antes de ser tarefa a realizar, é VIDA.
MISSÃO, portanto, não é luxo, não é tarefa de um grupo escolhido. Missão verdadeira é consequência de uma profunda experiência mística com a pessoa de Jesus, Salvador e Libertador. Missão é questão de amor. Esta experiência do amor sempre faz sair de si para ir ao encontro de outro/a, para gerar sentido verdadeiro da vida e “para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
ESPIRITUALIDADE
Vivemos num mundo de constante e profundas mudanças e de mudança de época, que tornam a nossa existência por demais fragmentada e dificultam, cada vez mais, o acesso ao sentido mais profundo de nossa vida. A complexidade em que estamos mergulhados faz com que uma parcela significativa da humanidade não consiga perceber o sentido real de sua vida e se perca em vivências desconexas e desarticuladas.
O caminho que pode nos levar a uma experiência pessoal e profunda com Deus, do Deus de Jesus cristo, vivo e presente no meio de nós, dando sentido à vida e aos anseios humanos, é uma mística e uma espiritualidade.
Por MÍSTICA entendemos o caminho para se chegar à descoberta do GRANDE MISTÉRIO, do grande segredo do plano divino que dá sentido á vida. É o que o apóstolo Paulo diz: “a mim, o menor de todos os santos, me foi dado a graça de anunciar aos gentios o grande Mistério (segredo) que estava escondido e que se deve revelar: Jesus Cristo... (Ef 3,4-9; Cl 1,26; Rm 16,25-26).
- Mística é o processo pelo qual, por Jesus Cristo, o Revelador do Mistério de Deus, entramos na intimidade de Deus e com Deus;
- Mística é esta força que nos envolve por inteiro e dá sabor ao nosso existir, ao nosso ser cristão, e impulsiona nosso agir. Mística, nós não a vemos, não a apalpamos, mas é ela que nos caracteriza e nos torna distintos uns dos outros;
- Mística cristã é algo que se vive e se experimenta. É uma relação profunda, existencial com o amor misericordioso do Pai (Lc 15), com a pessoa e o sonho de Jesus Cristo que salva e liberta, com a força e o calor do Espírito Santo.
A mística cristã leva à ESPIRITUALIDADE e gera a MISSÃO. Não qualquer tipo de missão, mas a missão que é vida a serviço e defesa da vida: missão libertadora e transformadora... Para quem abra essa ESPIRITUALIDADE CRISTÃ, vai exigir um estilo de vida consequente, uma maneira de viver a cotidianeidade. O SEGUIMENTO DE JESUS leva à santidade e impulsiona, necessariamente, para a MISSÃO. E isso é ESPIRITUALIDADE! Espiritualidade é vida segundo o ESPÍRITO, segundo Deus, que amor. É vida que nos inspira e leva-nos a aspirar os “dons do Espírito” (1Cor 14,1).
Não confundir ESPIRITUALIDADE com os meios de espiritualidade, meditação, esforço ascético, orações... Espiritualidade não exclui rezas e meditações, mas vai além. É antes de tudo um estilo de vida segundo o Espírito Santo, por Cristo ao Pai, que se concretiza na união com o Senhor Jesus, no seu seguimento
A espiritualidade cristã, no seu conteúdo e realidade, sempre existiu na Igreja, pois sempre tivemos testemunhos e testemunhas de santidade no seguimento de Jesus e anunciadores e missionários e missionárias, e comunidades empenhadas na evangelização local e universal.
O primeiro traço da ESPIRITUALIDADE é nunca esquecer que somos chamados, chamados porque amados e escolhidos para a missão. Quem nos chamou e enviou foi o próprio Deus, para o serviço do Reino. Recebemos este chamado por meio de mensageiros de Deus. Respondemos em situações concretas, na gratuidade e na disponibilidade – pelo anúncio e testemunho, pela participação enriquecedora no diálogo transparente e pela escuta e serviço aos irmãos.
DA 149: “No começo de sua vida pública, depois de seu batismo, Jesus foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto para se preparar para a sua missão (cf. Mc 1,12-13) e, através da oração e do jejum, discerniu a vontade do Pai e venceu as tentações de seguir outros caminhos. Esse mesmo Espírito acompanhou Jesus durante toda sua vida (cf. At 10,38). Uma vez ressuscitado, Ele comunicou seu Espírito vivificador aos seus” (cf. At 2,33).
DA 138: “Para ficar verdadeiramente parecido com o Mestre, é necessário assumir a centralidade do Mandamento do amor, que Ele quis chamar seu e novo: “Amem-se uns aos outros, como eu os amei” (Jo 15,12). Este amor, com a medida de Jesus, com total dom de si, ale´m de ser o diferencial de cada cristão, não pode deixar de ser a característica de sua Igreja, comunidade discípula de Cristo, cujo testemunho de caridade fraterna será o primeiro e principal anúncio: ´todos reconhecerão que sois meus discípulos´” (Jo,13,35).
Irmão Eremita.