«SENHOR, ONDE ESTÁS?»
O sofrimento é muitas vezes o grande enigma dos homens: por que..., para que existe? Onde fica Deus?
Em vez de se deixar levar pelas emoções, o cristão, diante de tal questionamento, põe a razão e a fé para funcionar. Estas ensinam que Deus não pode ser o Autor dos males que afligem os homens, pois, por definição, Deus é o Santo e o Perfeito. O mal só pode provir das criaturas limitadas... necessariamente limitadas, pois, se não o fossem, seriam deuses. Cada qual é dotada da sua maneira própria de agir.
O Senhor não quis fazer um mundo artificial, policiado a todo momento, de modo que o homem seria uma marionete no teatro da história teledirigida por um teatrólogo todo-poderoso. Essa peça de teatro poderia ser bonita, mas teria uma nota negativa: a sufocação da liberdade de criaturas livres por sua própria natureza e espontaneamente desejosas de exercer a sua liberdade.
Sendo assim, o Senhor Deus concebeu uma outra modalidade de enredo da história. Sim; Ele deixa as criaturas agir segundo a sua natureza: as irracionais, conforme as leis da Física; as racionais, segundo as opções da sua liberdade. Isto é mais nobre e magnânimo do que esmagar a liberdade de quem foi feito para ser livre. Como se compreende, porém, a liberdade dá sua "mancadas" ou pratica lances falsos (é claro, porém, que nem tudo é falho, mas muita coisa estupenda ocorre por opção das criaturas livres). O papel nobre de Deus, no caso, será o de fazer que os próprios males das criaturas contribuam para o bem das mesmas. É Sto. Agostinho quem diz: «Deus nunca permitiria o mal, se Ele não tivesse recursos para tirar do mal bens ainda maiores». Com outras palavras: Ele preferiu utilizar o mal em favor do bem a impedir soberanamente o mal.
A Sagrada Escritura é toda perpassada por esta concepção. Já em seu primeiro livro encontra-se a história de José vendido por seus irmãos a estrangeiros e condenado ao extermínio. Diz finalmente José, feito Primeiro-Ministro do Faraó do Egito, aos seus irmãos que se lhe apresentam como escravos: «Não tenhais medo algum! O mal que tínheis a intenção de fazer-me, o desígnio de Deus o mudou em bem a fim de cumprir o que se realiza hoje: salvar a vida a um povo numeroso. Não temais; eu vos sustentarei, bem como a vossos filhos» (Gn 50,18-21).
Estas palavras são como um clichê que percorre toda a mensagem bíblica e culmina na figura de Jesus Cristo. Este foi vendido por seus irmãos e condenado a morrer, mas Ele pode dizer: «Estive morto, mas eis que vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da região dos mortos» (Ap 1,17s).
O mesmo clichê se aplica a cada discípulo de Cristo. A cruz que ele carrega é parte da Cruz de Cristo; é o lenho da vida, que faz passar da morte para a plenitude bem-aventurada. Eis por que o cristão não se abate, mas sabe que nada lhe acontece fora do sábio plano da Providência, que nunca permitiria o mal se não tivesse recursos para tirar do mal bens ainda maiores.
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NO CAMINHO DE JESUS DE NAZARÉ
Jesus de Nazaré era um homem como nós. Tinha pai, mãe e parentes que todos conheciam em sua aldeia. “Não é Ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não vivem todas entre nós?” (Mt 13,55-56). Em Nazaré, “onde se tinha criado” (Lc 4,16), antes de sua vida pública, vivera como qualquer um de seus habitantes. Durante o ministério apostólico, não o vemos bancar o herói ou o santo. Continua vivendo como todo mundo. Nada de humano lhe é estranho. Sentia fome (Mt 4,2) e sede (Jo 18,28) como os outros homens. Cansado, adormece no canto de um barco (Mc 4,37). Irado, toma de um chicote e expulsa os vendilhões do templo (Jo 2,15). Diante de Jerusalém e junto do sepulcro de um amigo, não conteve suas lágrimas. Sim, Ele chorou vencido pela emoção.
Conheceu também, as alegrias simples de nossa vida humana. Logo no início de sua carreira, nós o encontramos com sua mãe e seus discípulos, nas bodas de Caná. E para não privar os convivas da alegria que traz o vinho, fez o seu primeiro milagre. Não começou por multiplicar os pões, mas por transformar a água em vinho, a fim de prolongar a festa dos pobres. Frequentemente, tomava a refeição em casa de conhecidos. Teve amigos íntimos, como Lázaro e suas irmãs. Acho de uma beleza incomparável o recado que Marta e Maria lhe mandaram, recomendando-lhe a doença do irmão: “Senhor, aquele a quem amas, está doente” (Jo 11,3). Para escândalo dos rabinos, se deixa acompanhar de algumas mulheres que se ocupavam de suas necessidades materiais. Enfim, Ele quis experimentar o “ingênuo triunfo”, que foi sua entrada messiânica em Jerusalém (a Cidade Santa).
Nada, entretanto, nos revela melhor o homem Jesus, do que os seus sentimentos em face da morte. Ele não ignorava de que morte deveria morrer. Chegara mesmo a descrevê-la antecipadamente a sues apóstolos. “O Filho do Homem será entregue aos pontífices e aos escribas que o condenarão à morte e o entregarão aos gentios para ser escarnecido, flagelado e crucificado” (Mt 20,18-19). E Jesus não quis fugir ao seu destino. “Hoje, amanhã e depois de amanhã, devo prosseguir no meu caminho, pois não convém que um profeta morra fora de Jerusalém” (Lc 13,33). O caminho que conduzia a Jerusalém terminava no Calvário. Ele bem o sabia. Mesmo assim, o tomou “resolutamente” (Lc 9,51). Os apóstolos desconfiaram que aquela viagem era perigosa. Por isso, tinham medo. “Eles achavam-se na estrada, subindo para Jerusalém; Jesus caminhava na frente, eles estavam assombrados e aqueles que o seguiam, atemorizados” (Mc 10,32).
Jesus se prepara para este transe. Desejara mesmo que chegasse o mais depressa possível. “Devo passar por um batismo e qual não é minha angústia até que seja consumado” (Lc 12,50). Mas, quando chegou a Hora, sentiu-se apavorado e desnorteado. “Ele começou a sentir pavor e angústia” (Mc 14,34). E não escondeu os seus sentimentos. Chegou mesmo a se queixar aos apóstolos: “Minha alma está numa tristeza mortal” (Mt 26,38). A agonia foi a tentação decisiva de Jesus. Depois de ter narrado a tentação no deserto, São Lucas acrescenta: “O demônio se afastou, mas para voltar no tempo marcado” (Lc 4,13). Chegara o tempo marcado. No deserto, o demônio lhe havia sugerido todo um programa de messianismo terrestre, que rejeitou com energia. Seu caminho era outro. Mas quando veio a Hora de sofrer as consequências de sua opção messiânica, a alma de Jesus vacilou: “Aba Pai, tudo te é possível, então afasta de mim este cálice” (Mc 14,36).
E não revelou aos apóstolos a luta que travava dentro de si mesmo, quando lhes disse: “Vigiai e orai para não entrar em tentação. O espírito é ardente, mas a carne é fraca” (Mc 14,38). Esta angústia em face da morte foi a suprema tentação messiânica. Ainda havia tempo. Tudo poderia tomar outro rumo. Mas, Ele era o Servo de Javé, anunciado pelos profetas, que deveria assumir o pecado e o sofrimento dos homens.
Triunfando de si mesmo, cumpriu a vontade do Pai e caminhou para a morte. E no momento de morrer, soltou um grande brado (Mc 15,37). Sim, Jesus morreu gritando. Sofrera toda a Paixão com uma paciência mais do que admirável. Ele se deixara prender, açoitar, insultar. Tomara sua cruz, coroado de espinhos, e quando os cravos rasgaram lhe as mãos e os pés, não proferiu uma só palavra de queixa, um só gemido ou dor. Cravado na cruz, falara com sua Mãe, com o discípulo preferido, com um de seus companheiros de suplício. Ao Pai, pedira perdão para os algozes. A estes, um gole d´água. Mas na hora de morrer, grita “com voz forte” (Mt 27,50). Era o protesto da natureza humana diante da morte. A agonia de Jesus, o seu grito, meu Deus, meu Deus... tudo isso é o acabamento da encarnação, porque em tudo isso, Deus se tornou verdadeiramente homem..
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Eremitas da Santa Cruz
“Na Cruz de Jesus a nossa única esperança”
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A SABEDORIA DA DA CRUZ
Como é desconcertante e assustador o silêncio do Deus do Reino diante da Cruz de Jesus! O Evangelho de Marcos coloca nos lábios de Jesus agonizante as palavras do salmo 22,2: "Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?" (Mc 15,34).
Jesus passou pela "noite escura do espírito", usando a expressão de São João da Cruz, a noite do horto das oliveiras, na experiência do silêncio de Deus... se trata de uma experiência necessária, para a purificação da imaginação, do sentimento, da inteligência e do coração de todo cristão que vive de maneira mais profunda o encontro com o Deus de Jesus de Nazaré.
ORE, melhor ter MARCAS nos joelhos, do que ter FERIDAS NO CORAÇÃO E NA ALMA.
QUEM É JESUS
(MADRE TEREZA DE CAUCUTÁ)
Para mim, Jesus é o Verbo feito carne.
O pão da vida.
A vítima sacrificada na cruz por nossos pecados.
O sacrifício oferecido na santa missa pelos pecados do mundo e por meus próprios.
A palavra, para ser dita.
A verdade, para ser proclamada.
O caminho, para ser percorrido.
A luz, para iluminar.
A vida, para ser vivida.
O amor, para ser amado.
A alegria, para ser repartida.
O sacrifício, para ser dado aos outros.
O Pão da Vida, para que seja meu sustento.
O alimento para alimentar.
O sedento, para ser saciado.
O despido, para ser vestido.
O desamparado, para ser amparado.
O enfermo, para ser curado.
O triste, para ser amado.
O indesejado, para ser querido.
O leproso, para lavar suas feridas.
O mendigo, para dar-lhe acolhida.
O alcoolizado, bêbado para ajuda-lo.
O deficiente mental, para proteger.
A criança abandonada, para acolhê-la.
O cego, para guiá-lo.
O mudo, para falar por ele.
O manco, para caminhar com ele.
O drogado, para ser compreendido na amizade.
A prostituta, para libertá-la.
O preso, para ser visitado.
O ancião, para ser atendido.
Para mim, Jesus é meu Deus.
Jesus é meu amigo.
Jesus é minha vida
Jesus é meu único amor.
Jesus é meu tudo.
* Eremitas.